editado pelo DIP, 1937/1945. Rio de Janeiro (RJ).
(CPDOC/ GV foto 091/capa)
Com
o auxílio do Ministério da Educação e do Departamento de Imprensa e
Propaganda (DIP), o regime autoritário do Estado Novo articulou uma
dupla estratégia de atuação na área cultural, voltada tanto para as
elites intelectuais como para as camadas populares. Ao mesmo tempo em
que incentivava a pesquisa e a reflexão conduzidas pelos intelectuais
reunidos no ministério chefiado por Gustavo Capanema, o governo
estabelecia, via DIP, uma rígida política de vigilância em relação às
manifestações da cultura popular. A propaganda do regime foi facilitada
pelo controle dos mais variados meios de comunicação, e seus
instrumentos principais foram o rádio e a imprensa.
Nomeado
ministro da Educação no início do governo constitucional de Getúlio
Vargas, em 1934, Gustavo Capanema manteve-se à frente do ministério
durante todo o Estado Novo. Manteve igualmente o grupo de intelectuais
que o assessorava, do qual faziam parte Carlos Drummond de Andrade,
Mário de Andrade, Rodrigo Melo Franco de Andrade e outros. Os projetos
que vinham sendo desenvolvidos tiveram continuidade, o que resultou na
implantação definitiva de órgãos como a Universidade do Brasil, o
Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e o Instituto
Nacional do Livro. Também foi consumada a reforma do ensino secundário e
foi estimulado o ensino profissionalizante, que permitiria a criação do
Senai e do Senac. A afirmação dos princípios católicos na condução do
ensino superior se faria com a abertura das Faculdades Católicas, que
daria origem à criação da Pontifícia Universidade Católica. Modernizar a
educação, incentivar a pesquisa e preservar as raízes culturais
brasileiras foram metas almejadas pelos intelectuais que cercavam o
ministro Capanema, mas essas metas nem sempre foram alcançadas, pois
muitas vezes esbarravam nos procedimentos centralizadores e burocráticos
do regime.
No
DIP, sob a liderança de Lourival Fontes, iriam reunir-se os
remanescentes do modernismo conservador representado pela corrente dos
verde-amarelos. Foi esse grupo que traçou efetivamente as linhas mestras
da política cultural do governo voltada para as camadas populares. Uma
das metas fundamentais do projeto autoritário era obter o controle dos
meios de comunicação, garantindo assim, tanto quanto possível, a
homogeneidade cultural. A ideologia do regime era transmitida através
das cartilhas infanto-juvenis e dos jornais nacionais, passando também
pelo teatro, a música, o cinema, e marcando presença nos carnavais,
festas cívicas e populares.
Em
1940, a Rádio Nacional foi encampada pelo governo. Logo em seguida, foi
a vez dos jornais A Manhã e A Noite. O jornal A Manhã, sob a direção de
Cassiano Ricardo, e a revista Cultura Política, sob a direção de Almir
de Andrade, tornaram-se os porta-vozes do regime. Ambas as publicações
contavam com a colaboração de intelectuais das mais diversas correntes.
Já a revista Ciência Política reunia intelectuais de pouca projeção,
voltando-se basicamente para a doutrinação das camadas populares.
Buscava-se construir a imagem de uma verdadeira simbiose entre o governo
e os intelectuais. Ao assumir sua cadeira na Academia Brasileira de
Letras, em 1943, Vargas estaria simbolicamente corporificando essa
comunhão de interesses. O curioso disso tudo é que, se a imprensa foi
uma peça fundamental na definição e na difusão da ideologia do Estado
Novo, seria também através dela que a imagem do regime começaria a ruir.
Seguramente
o rádio foi um dos veículos de maior eficiência na difusão do projeto
político-pedagógico estadonovista. A Rádio Nacional contava com
expressiva verba oficial para manter o melhor elenco da época, incluindo
músicos, cantores, radioatores, humoristas e técnicos. Em seus
programas transmitiam-se os padrões de comportamento e valores
desejáveis. Buscando monopolizar a audiência popular, o governo
instituiu concursos musicais em que a opinião pública elegia seus astros
favoritos. A apuração era feita no DIP, e o resultado era transmitido
durante o programa "Hora do Brasil". Em agosto de 1941, foi criado o
"Repórter Esso", jornal radiofônico inspirado no modelo norte-americano
com notícias procedentes da United Press International (UPI). A Rádio
Mauá, diretamente ligada ao Ministério do Trabalho, e autodenominando-se
"a emissora do trabalho", popularizava a imagem de Vargas.
Com
o objetivo de incentivar as manifestações cívicas, o governo deu apoio
ao projeto orfeônico de Villa-Lobos. As apresentações de canto orfeônico
eram comuns durante as grandes concentrações populares no estádio do
Vasco da Gama. O povo era considerado uma espécie de matéria bruta a ser
elaborada pelo saber das elites. Baseado nesse raciocínio, o governo
justificava seu controle e fiscalização sobre as mais diversas
expressões culturais. Até mesmo a linguagem popular era alvo desse tipo
de controle.
Foi
durante o Estado Novo que surgiu o chamado "samba da legitimidade", em
que se buscava converter a figura do malandro na figura exemplar do
operário de fábrica. O DIP incentivava os compositores a exaltar o
trabalho e abandonar a boemia. Também através do samba se ensinava a
repudiar o comunismo como ameaça à nacionalidade ("Glória ao Brasil",
1938). Procurando construir uma imagem positiva do governo junto aos
artistas, em 1939 Vargas criou o "dia da Música Popular Brasileira".
Com
construções arquitetônicas sólidas como o Ministério da Guerra e a
estação da Central do Brasil, procurava-se demonstrar a força e pujança
do regime. Mas também se ousava nos pilotis e nos painéis do
edifício-sede do Ministério da Educação. Foi essa combinação entre
conservadorismo e arrojo a marca do Estado Novo na área cultural.
Fonte: CPDOC/FGV
In: http://filosofandoehistoriando.blogspot.com.br/2011/10/educacao-cultura-e-propaganda-parte.html
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