Antes
de os europeus escravizarem os africanos, a partir do século XV, e
colonizarem a África, no século XIX, diversas sociedades autônomas já
existiam nesse continente, ou seja, as sociedades africanas já tinham a
sua própria história. Algumas sociedades africanas pré-coloniais, sob o
comando de chefes poderosos, ampliaram suas áreas de influência e
dominaram outros povos, transformando-se, assim, em impérios e reinos
prósperos e organizados, conforme relatos da época. Vamos falar sobre
quatro dos grandes reinos africanos: Gana, Mali, Congo e Benin, mas
antes faz-se necessário conhecer um pouco mais do retrato físico deste
continente.A diversidade social, política e cultural da África ocorreu
graças à extensão do continente e suas características geográficas.
A
África é cercada a nordeste pelo mar Vermelho, ao norte pelo
Mediterrâneo, a oeste pelo oceano Atlântico e a leste pelo oceano
Índico. Em termos geográficos, suas principais marcas são o deserto do
Saara ao norte que divide o continente, o deserto do Calahari a
sudoeste, a floresta tropical do centro do continente, as savanas, ou
campos de vegetação esparsa e rasteira, que separam áreas desérticas de
áreas de florestas, e algumas terras altas, como aquelas nas quais
nascem os rios que formam o Rio Nilo. Os rios são os meios de
comunicação mais importantes do continente.
Essas
diversidades naturais levaram estudiosos a falar de duas Áfricas,
demarcadas pelo deserto do Saara: a África saariana que se localiza ao
norte do continente e estende-se pela região que vai do atual Egito até
Marrocos e a África subsaariana que estende-se do Saara até o Cabo da
Boa Esperança, ao sul do continente, como podemos ver no mapa abaixo que
representa a atual divisão territorial da África.
O reino de Gana: a “terra do ouro”
Localizado
a oeste do continente africano, em uma zona chamada Sael e ao sul do
Deserto do Saara, região também conhecida como África Subsaariana, o
Reino de Gana cresceu a partir do ano 300 e teve seu apogeu entre os
séculos IX e X, quando dominou os povos vizinhos e ocupou uma faixa
territorial maior do que ocupa nos dias de hoje.
O
rei recebia o título de gana e era visto como elo entre os deuses e os
homens. Ele liderava um poderoso exército e ocupava o topo de uma
sociedade hierarquizada. Sacerdotes, nobres e funcionários cuidavam da
administração do reino.
A
população se dedicava à agricultura e à criação de gado, mas o comércio
era a principal atividade econômica do reino. O Reino de Gana
controlava as rotas de comércio que atravessavam o Saara e chegava às
cidades e aos portos do norte África. Esse comércio era feito por meio
de caravanas de camelos, pois esses animais conseguem viver com pouca
quantidade de água.
O
principal artigo transportado era o ouro retirado das minas do sul de
Gana, isso explica por que seus reis eram chamados pelos povos do norte
de “senhores do ouro”. Durante o domínio português, Gana era chamada de
Costa de Ouro, por causa da grande quantidade de jazidas de ouro nessa
região. Atualmente, ao lado da exportação de cacau e de madeira, a
exploração de ouro ainda é uma das atividades econômicas mais importantes do país. Gana é um dos maiores produtores de ouro do mundo.
Também
se comercializava o sal, extraído das salinas do litoral ou das jazidas
no deserto. Do norte vinham produtos manufaturados, tecidos europeus
asiáticos, barras de cobre, contas de vidro e tipos diferentes de arma
que abasteciam as sociedades africanas.
O império do Mali: o “lugar onde o senhor reside”
Este
império desenvolveu-se entre os séculos XIII e XVI, período em que
impôs sua hegemonia sobre a bacia do Rio Níger. Constituído pela atual
República de Mali e algumas regiões dos atuais Senegal e Guiné, o reino
do Mali, no século XIV, expandiu-se por meio da anexação das cidades de
Tombuctu, Gao e Djenne que foram importantes cidades, centros de troca e
de concentração de pessoas, graças à rede de rios que fertilizava as
terras e facilitava o transporte na região.
O
Mali era um império poderoso, pois controlava o comércio transaariano e
as rotas caravaneiras que se dirigiam para as principais cidades do
reino, localizados em sua maioria às bordas do Rio Níger, semelhante a rota comercial de Gana. O
comércio e principalmente as taxas sobre o tráfico de ouro, sal,
escravos, marfim, noz-de-cola e outros produtos eram fundamentais para a
manutenção do Estado, da corte e do mansa. O artesanato era bastante
desenvolvido. Cada grupo de artesãos tinha seu representante junto ao
imperador. Os governantes do Mali
recebiam o título de mansa. Viajantes árabes relatavam histórias de
alguns governantes que se tornaram famosos, como Sundiata, herói
fundador que reinou de 1230 a 1255, e Mansa Musa, que governou entre 1312 e 1337.
Mansa Musa - (Extraído do blog: civilizacoesafricanas.blogspot.com)
A cidade de Tombuctu destacou-se como grande centro cultural do continente africano, onde havia vastas bibliotecas, madrassas (universidades islâmicas) e magníficas mesquitas que é o lugar onde a comunidade muçulmana se reúne para tratar de todas as questões que lhe interessa, questões religiosas,
sociais, políticas e locais e também para rezar. Além disso, a cidade
passou a ser o ponto de encontro de poetas, intelectuais e artistas da
África e do Oriente Médio. Mesmo após o declino do império, Tombuctu
permaneceu como um dos principais pólos islâmicos da África subsaariana.
Em 1988, a cidade de Timbuctu foi declarada patrimônio mundial pela UNESCO.
Vale
destacar que as 150 escolas que existiam em Tombuctu eram muito
diferentes das escolas medievais européias. Não possuíam uma
administração central, registros de estudantes ou cursos pré-
determinados. Eram formadas por diversas faculdades independentes. Os
estudantes se associavam a um único professor, o objetivo do ensino era
transmitir os ensinamentos do Alcorão, livro sagrado do islamismo.
É
importante mencionar que o império do Mali e também de Gana assimilaram
a cultura e a religião islâmica. Maomé que viveu entre Meca e Medina,
de 570 a
632, foi fundador do Islã, que significa submissão a um deus, única e
onipotente. A religião vinha acompanhada de maneiras de viver e de
governar próprias do mundo árabe, chamadas de muçulmanas, sobre este
assunto estudaremos com mais detalhes mais adiante.
Reino do Congo: “saudações ao manicongo”
Fundado
no século XIV, o reino do Congo abrangia grande extensão da África
centro-ocidental e se compunha de diversas províncias, governado por um
rei que recebia o título de Manicongo. Hoje
a região que fazia parte do reino Congo, recebe o nome de Republica
Democrática do Congo.Os habitantes do reino do Congo organizavam-se em
vários clãs. Esses clãs eram compostos de pessoas que acreditavam
descender de um mesmo antepassado.
A
base da economia do Congo era a agricultura, pastoreio e o comércio. O
comércio no território do Congo era intenso, os comerciantes congoleses
lucravam com a comercialização de tecidos, sal, metais e derivados de
animais, como o marfim. O comércio poderia ser à base de trocas ou com
moedas (conchas chamadas de nzimbu) encontradas na região de Luanda em
Angola.
O
manicongo, cercado de seus conselheiros, controlava o comércio, o
trânsito de pessoas, recebia impostos, exercia a justiça, buscava
garantir a harmonia da vida do reino e das pessoas que viviam nele.
Os
limites do reino eram traçados pelo conjunto de aldeias que pagavam
tributos ao poder central, devendo fidelidade a ele, recebendo proteção,
tanto para assuntos deste mundo como para os assuntos do além, pois
manicongo também era responsável pelas boas relações com os espíritos e
os ancestrais.
Em 1483 iniciou no reino do Congo o contato com os portugueses.
Reino do Benin: “os feitos de obá”
Há indícios de que este reino tenha se desenvolvido entre os séculos XII e XIII, onde hoje estão Nigéria e Camarões. Desde cedo, essa região passou por um processo de urbanização, e as cidades se converteram em reinos. Sua localização favorecia o encontro de mercadores.
A principal atividade econômica do reino de Benim era
o comércio de sal, peixe seco, inhame, dendê, feijão, animais de
criação, o cobre, produto raro, só possível para os mais poderosos, ou
seja , os mais ricos. Produtos como pimenta, marfim, tecidos e escravos
eram comercializados ativamente com os reinos de Ifê e o reino Iorubá.
Para prevenir a redução da população nativa, o governo proibiu a
exportação de escravos masculinos e os importou da África ocidental para
comerciá-los com os europeus a partir do século XVI.
Cronistas
descreveram a cidade do Benin com grandes muralhas e um palácio
decorados com placas de latão presas às paredes. Nessas placas, era
contada a história do reino: feitos do obá (titulo do principal chefe do
reino que se tornou o supremo poder na região), as caçadas, as guerras e
os primeiros contatos com os portugueses, por volta de 1485. A
chegada dos europeus foi registrada pelos artistas africanos com
imagens esculpidas nessas placas e em pequenas estatuetas de marfim.
Cabeça de marfim, Império de Benim, século XVI (Metropolitan Museum of Art). (Extraído do blog: civilizacoesafricanas.blogspot.com)
O reino de Benin se desintegrou no século XIX, sob o domínio dos ingleses.
O contato entre os reinos africanos
A
interação destes reinos acima estudados, e demais reinos africanos
ocorreu através do comércio, ora através de relações pacificas , ora
conflituosas, como foi o caso do reino de Gana que no século XIII foi
governado por Sundiata Keita, rei do Império do Mali.
Quando
os europeus começaram a explorar a costa africana, no século XV,
encontraram diferentes povos, com línguas, tradições e costumes
distintos. O contato dos europeus com essa diversidade de etnias, por
meio da exploração das terras africanas e do escravismo, produziu um
intercâmbio cultural que se pode notar em quase todo o planeta. No
Brasil podemos reconhecer a África na capoeira, embalada pelo berimbau; a
culinária, enriquecida com o vatapá, o caruru e outros quitutes; as
influências musicais do batuque e a ginga do samba e dos instrumentos
como cuícas, atabaques e agogôs. Estamos ligados ao continente africano
de forma indissolúvel.
In: http://gephiseseba.blogspot.com.br/2010/10/texto-1-africa-dos-grandes-reinos-e.html
falta muitos como kush, cartago e axum
ResponderExcluirmuito boa a pesquisa!
ResponderExcluirsó deixou a desejar com os impérios de Ioruba,Kush e cartago!
A importância da historia, é de saber que ela vai, sempre existe! Maravilhosa pesquisa..
ResponderExcluirmto boa mais falto o iorubas songai e o islamismo da africa mais tirando isso mto bom
ResponderExcluirme salvou.
ResponderExcluirmuito bom
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