A
renúncia de Jânio Quadros instaurou um quadro de extrema instabilidade
no Brasil. Carlos Lacerda e boa parte dos setores militares não
estavam dispostos a aceitar a posse de João Goulart, vice-presidente,
tido como excessivamente de esquerda e acussado de ter ligações com o
comunismo.
Nesse
contexto a previsibilidade de um golpe militar que acompanhava a
democracia brasileira desde 1946 parecia muito próximo. Contudo, o
movimento cívico-militar encabeçado pelo governador do Rio Grande do
Sul, Leonel Brizola – cunhado de Jango – por meio da conhecida Rede da
Legalidade começou a se mobilizar para garantir a posse do
vice-presidente. No Rio Grande do Sul, parcela da população civil pegou
em armas para garantir o cumprimento da lei. A UNE e vários sindicatos
declararam greve, a OAB e a CNBB declararam apoio ao cumprimento da
Constituição.
Nesse
contexto de instabilidade política, se estabeleceu um acordo, onde a
posse de João Goulart aconteceria, mas por meio de uma “solução de
compromisso”, que através de uma emenda à constituição estabelecia o
parlamentarismo no país. Assim Goulart assumia a presidência mas o chefe
de governo seria o primeiro-ministro.
Os militares ordenaram o bombardeio do Palácio do Piratini no RS, mas os sargentos impediram que os aviões decolassem.
A
“solução de compromisso” previa um plebiscito para legitimar a
alteração na forma de governo. Assim, em 1963 quase 80% dos brasileiros
decidiram pela volta do presidencialismo, devolvendo os poderes de
chefe do governo ao presidente João Goulart.
O
governo Goulart foi marcado pela instabilidade política e economica.
Pressionado pela crise na economia, Jango procurou se aproximar dos
movimentos sociais, comprometendo-se a recuperar o poder de compra dos
trabalhadores.
Tentou
colocar em prática o Plano Trienal, onde previa uma série de reformas
com a finalidade de dar um novo dinamismo ao capitalismo brasileiro,
como a reforma agrária, educacional (com investimentos de 15% da renda
produzida no Brasil), administrativa, tributária (com limitação das
remessas de lucros) e urbana (as pessoas poderiam ficar com apena uma
casa). Além disso, Goulart tinho como objetivo controlar o capital
estrangeiro e criar monopólios de setores estratégicos da economia do
país. Delineia-se a volta do nacionalismo, com uma grande intervenção do
estado na economia.
É
claro que muitos setores da sociedade brasileira não simpatizavam
minimamente com Jango, e muito menos com suas propostas de reforma de
base. Junte-se a essa falta de apoio o contexto da Guerra Fria e o “medo
do comunismo”, além da ascenção dos movimentos sociais no Brasil, em
especial das Ligas Camponesas, que exigiam uma grande reforma agrária,
assunto abominado pelos grandes latifundiarios e setores conservadores.
De
ambos os lados as posições se radicalizavam. Jango tinha que lutar
tanto contra os setores de direita, que o acusavam de conspiração com os
comunistas, como com os de esquerda, que exigiam a radicalização das
reformas, mesmo sem aprovação do Congresso (Jango não tinha a maioria
entre os parlamentares).
A
partir do segundo semestre de 1963 a situação política e a sustentação
de jango no poder começaria a tomar rumos imprevisíveis. Em setembro,
um grupo de sargentos tomou Brasília pela força, trazendo um grande
desgaste para o governo. Poucos dias depois, Lacerda (que na ocasião era
governador da Guanabara) em entrevista a um jornal norte-americano
atacou Jango e apleou para que os Estados Unidos itervisse a situação
política brasileira. Para tentar acabar com as hostilidades da oposição,
Jango vai solicitar ao Congresso a aprovação do estado de sítio,
suspendendo as garantias individuais e possibilitando assim a repressão
dos opositores. A medida não foi bem recebida e a situação de Jango, se
tornou ainda mais delicada. Enquanto isso, a crise economica se
intensivicava e a inflação para o ano de 1963 batia na casa dos quase
80%.
E
nesse contexto que tem-se no dia 13 de março de 1964 – com o apoio dos
movimentos de esquerda – o famoso Comício da Central do Brasil, onde
centenas de milhares de pessoas ouviram Jango criticar a Constituição de
1946 e anunciar as reforma de base, entre elas a nacionalização de
todas as refinarias de petróleo particulares e a desapropriação das
terras com mais de 100 hectares situadas às margens das rodovias e
ferovias federais.
Imeditamente
os setores conservadores da sociedade brasileira reagiram, e no dia 19
de março acontece a gigantesca manifestação conhecida como “Marcha da
Família com Deus pela Liberdade”, onde assustados com as medidas de
Jango e com a sempre temida ameaça comunista exigem a deposição do
presidente.
A
manifestação conservadora deu um soposto apoio popular, e a singular
revola dos marinheiros entre os dias 25 e 27 de março, que se insurgiram
contra o comando da Marinha – no qual Jango se pocisionou a favor,
concendendo a anistia – caracterizou uma suposta quebra de hierarquia,
dando aos setores militares conservadores a motivação para consumar o
golpe militar.
Assim,
no dia no dia 31 de março de 1964, sob a alegação de quebra da
disciplina das Forças Armadas e do perigo comunista, um grupo de
soldados comandados pelo general Olímpio Mourão Filho partiu de Juíz de
Fora com o objetivo de derrubar o presidente. Efetivametne, Jango
poderia ter mobilizado as tropas que se mantinham fiéis ao governo
federal e impedir o avanço das tropas, tentando suspender o golpe ou ao
menos ganhar mais tempo. O problema é que Jango ficou sabendo que os
EUA já haviam colocado em ação a operação Brother Sam e em caso de
resistência armada de Jango ajudariam os golpistas com apoio
diplomático, financeiro e em caso de necessidade, inclusive, militar.
Rumava em direção ao Brasil uma considerável frota norte-americana, com
porta-aviões, destróieres e aviões de combate com grande poder de fogo.
Com
o risco de uma guerra civil e da intervenção dos Estados Unidos na
soberania nacional, Jango tentou convencer os militares a manter a
fidelidade e suspender o golpe, sem nenhum sucesso. Naquele momento, o
golpe articulava governadores de importantes estados brasileiros, em
especial São Paulo, Minas Gerais, Guanabara e Rio Grande do Sul, os
setores conservadores da sociedade brasileira, políticos de oposição e,
inclusive, o presidente do Congresso Nacional, além do governo dos
Estados Unidos que se posicionavam a favor dos militares com apoio
bélico.
Tratava-se,
sobretudo, de garantir uma modernização conservadora, dentro da ordem
do capitalismo internacional vigente, afastando as massas populares e
os movimentos de oposição da cena política e garantindo os interesses
das elites brasileira.
A charge abaixo faz uma referência direta aos intentos de João Goulart levar a cabo a reforma agrária. O cartunista faz uma comparação entre a agricultura americana e a russa, deixando implicito uma crítica as supostas inclinações socialistas do presidente. Trata-se de uma charge bastante conservadora.
Na
cartoon abaixo observa-se uma referência direta em relação as
reformas de base propostas por João Goulart, que é, claro, contrariava
os interesses dos setores conservadores.
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