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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Imperialismo (3): O imperialismo na Ásia

Fonte: Imago História

Por um longo tempo a Ásia foi cobiçada pelos europeus. Os produtos asiáticos eram o alvo da cobiça dos navegadores que romperam a barreira do Mar Mediterrâneo no século XV e XVI. Esse interesse fazia da Ásia um continente bem conhecido no século XIX, e sabia-se que abrigava grandes civilizações milenares.
Os grandes dominadores da Ásia durante a época do imperialismo capitalista do século XIX e XX foram os ingleses, principalmente pelo fato de terem dominado a Índia.

O caso da Índia

A intensificação da dominação da Índia ocorreu por meio de um processo de ocidentalização e anexação de territórios. Como exemplo, pode-se citar a doutrina da vacância (1848), que determinava que os territórios onde morresse um soberano – sem que ele tivesse sucessor imediato – deveriam ser anexados às possessões inglesas.
Desde o século XVI os ingleses compravam produtos indianos – como tecidos finos – para vender na Europa com imensos lucros. Aos poucos os ingleses foram desalojando os comerciantes locais, até que o monopólio das atividades comerciais foi entregue a Companhia das Índias Orientais. Com o advento da Revolução Industrial, a Companhia passou a vender os produtos têxteis industrializados ingleses na Índia, acabando com as centenárias tecelagens indianas.
De milenar e grande exportadora de tecidos finos a Índia passou a exportadora de matéria-prima, em especial o algodão. A dominação inglesa da Índia tem um lado aterrador: as mudanças nas relações de produção, com o deslocamento de milhões de trabalhadores para as atividades ligadas à exportação levou a Índia a enfrentar grandes períodos de carestia de alimentos, matando 30 milhões de pessoas. Um dos episódios mais terrificantes da história da humanidade.
Houve resistência a dominação inglesa e ao choque cultural imposto pelos ingleses na Índia. Um exemplo emblemático e a chamada revolta do sipaios, que ocorreu em 1857. Os sipaios eram soldados indianos que deviam obediência aos oficiais ingleses. Havia é claro, a insatisfação em relação ao processo de ocidentalização e a doutrina de vacância, mas o estopim da revolta foi à incorporação de uma novidade em termos bélicos: a utilização de cartuchos que continham gordura de vaca ou de porco.
A utilização de gordura de vaca ou de porco como impermeabilizante dos cartuchos (que deveriam ser rasgados com a boca trazia sérios problemas para as duas principais vertentes religiosas da Índia: para os hindus a vaca era considerada um animal sagrado e para os muçulmanos o contato próximo com o porco poderia ser considerado algo impuro (na medida em que o porco era considerado um animal impuro). Muitos consideram a revolta dos sipaios o primeiro episódio de um longo processo que levará a Índia a sua independência. Houve a repressão britânica à revolta, proporcionando inúmeros massacres da população com milhares de pessoas mortas.
O domínio britânico na Índia perdurou até a metade do século XX. A Índia foi a primeira grande experiência imperialista do século XIX e acabou formatando um modelo que de uma forma geral foi seguido posteriormente por outras potências: 

Se precisar utilizar a repressão, inclusive, com massacres.

Buscar alianças com líderes locais e se utilizar das disputas locais de acordo com os seus interesses.

Praticar o intensivo controle militar das regiões conquistadas, utilizando-se muitas vezes da ajuda da população local.

Se utilizar de companhias comerciais para a exploração dos territórios.

Por meio de empréstimos potencializar o controle dos territórios e a obtenção de lucros.

Mapear e explorar as riquezas locais a exaustão, sem levar em conta os interesses das populações locais.


Os imensos lucros obtidos pelos ingleses na Índia possibilitaram que eles estendessem seus domínios em grande parte do continente asiático, incluindo parte da China.

O caso da China

Da mesma forma que a Índia, a China causou fascinação aos europeus por centenas de anos. Os produtos chineses durantes séculos foram apreciados pelos europeus, que importavam as especiarias chinesas, movimentando a economia local. Enquanto a Europa atravessava o período feudal, marcado pela ruralização e pela descentralização do poder, o China esbanjava uma cultura refinada e altamente organizada.
Vários países passaram a estabelecer contatos comerciais com os chineses, destacando-se a Inglaterra a partir do século XVIII, por intermédio da Companhia das Índias Orientais. Os estrangeiros eram vistos com desprezo pelos governantes chineses, e os produtos ocidentais não despertavam a sua cobiça, sendo vistos no máximo com curiosidade. Isso fazia com que – mesmo obtendo lucros fabulosos revendendo os produtos chineses na Europa – a balança comercial entre ingleses e chineses sempre fosse favorável a China, na medida em que não se interessavam pelos produtos ocidentais.
Contudo essa situação começaria a mudar no começo do século XIX, uma vez que os europeus descobriram um produto para ser vendido na Índia com grandes lucros: o ópio.
Consumido abundantemente, inclusive pela elite chinesa, o ópio transformou-se em um sério problema para a China. O seu consumo em território chinês havia sido proibido em 1800, mas, mesmo assim, os traficantes ingleses vendiam o produto, que era cultivado pelos ingleses na Índia.
Como resposta aos traficantes e ao governo inglês, os chineses tomaram medidas energéticas em 1839 e confiscaram cargas de ópio de navios ingleses lançando-as ao mar. Alegando prejuízo, a Inglaterra bombardeou inúmeras cidades inglesas, no que ficou conhecido como a Guerra do Ópio, que durou de 1839 a 1842 e que foi vencida pelos ingleses, amparados por sua supremacia naval.
A derrota chinesa teve como conseqüência a assinatura do Tratado de Nanquim (1842) que obrigava os chineses a abrirem os seus portos ao comércio estrangeiros, legalizava o comércio de ópio na China e cedia o controle da ilha de Hong Kong aos ingleses.
Mais do que isso a derrota chinesa alertou as demais potências européias para a fraqueza da China, que passou a ser acossada e humilhada por inúmeros países.


Imperialismo (2): O imperialismo na África

 Fonte: Imago História


Durante século milhões de africanos foram escravizados e encaminhos à América para ter o seu trabalho explorado à exaustão. Mesmo assim, pode-se dizer que até o século XIX não existia muito interesse das potências européias em relação à dominação de grandes extensões territoriais na África. As feitorias (postos de comércio) bastavam aos interesses imediatos dos exploradores.
O único país que tinha efetivamente uma presença marcante no continente era Portugal, ainda com seus resquícios da época de ouro das Grandes Navegações. Essa situação, contudo mudou muito rapidamente. De 1880 até o começo do século XX praticamente todo o continente africano era dominado pelas potências européias.
Os ingleses e os franceses foram os grandes dominadores da África. Marco inicial dessa colonização foi a ocupação da Colônia do Cabo pelos ingleses e da Argélia pelos franceses. Os franceses foram os primeiros também a adentrar o continente, e com isso se apossando de imensos territórios, não suficiente, dominando a população e obrigando-a a cultivar ou explorar produtos de exportação, como a borracha.
Para oficializar a partilha da África os europeus se reuniram em 1885 na Conferência de Berlim, onde redesenharam um novo mapa de acordo com seus próprios interesses. Ao fazerem essa nova divisão geopolítica os europeus misturaram culturas, línguas e povos diferentes, ou apartaram populações que tinham uma grande identidade cultural. Com o processo de descolonização da áfrica, iniciado somente no pós Segunda Guerra Mundial, esse grande barril de pólvora seria acesso, levando inúmeros países africanos a guerras e a verdadeiros genocídios.


Abaixo a cartoon alemã de 1890 retrata um soposto "domingo a Tarde na África Ocidental". A imagem retrata os africanos ligados à selva, afirmando assim sua característica de um povo incivilizado, ligado a barbárie.

A imagem abaixo ilustra a natureza absurdamente violenta da ação imperialista na África.

Outro magnífico trabalho do brasileiro J. Carlos. Nessa cartoon temos uma inversão dos papéis comumente atribuídos a negros e brancos. 

Imperialismo (1): As justificativas para a ação imperialista

Fonte: Imago História


O termo imperialismo deriva do latim e significa “ter o poder de mandar”. Em poucas palavras, trata-se da imposição de um controle direto ou indireto de um Estado, povo ou nação sobre outro. 
Devido ao desenvolvimento industrial do século XIX, os governos europeus ficaram interessados em expandir seu mercado consumidor por outras áreas do planeta, além de aumentar a aquisição de matérias-primas, como minérios e produtos agrícolas. Assim, iniciaram uma acirrada disputa por territórios no continente africano - o que nos leva a considerar o imperialismo como uma consequência da Revolução Industrial.
No imperialismo de finais do século XIX e início do XX o Estado tinha, portanto, a função de conquistar territórios e povos que facilitassem a expansão do capital interno e da industrialização do país. Nesse sentido, era comum os Estados europeus mandarem tropas com a finalidade de submeter os povos, organizar e administrar as regiões dominadas, num processo de colonização. Esse ímpeto imperialista levou a partilha do continente Asiático e Africano, além da dominação informal de toda a América Latina. 
Contudo, para dominar e subjugar imensas regiões e milhares de pessoas era necessário algumas justificativas. Elas existiam e eram apoiadas por amplos setores da sociedade dos países imperialistas que se sentiam superiores às populações dominadas. Entre as falácias que justificavam essa dominação pode-se citar:

  • A necessidade de levar o progresso e a civilidade para as nações atrasados. Segundo essa lógica, os povos dominados eram considerados atrasados e incivilizados e cabia às nações européias a missão de civilizar essas regiões errantes.

  • A percepção de que a obtenção de colônias era um fator que garantia status e prestígio frente às outras potências européias, ou seja, para ser uma grande potência era necessário exibir as suas colônias como troféus.

  • O etnocentrismo, que se baseava na idéia de que alguns povos eram superiores a outros. Neste caso os europeus eram superiores a asiáticos, indígenas e africanos.

  • Darwinismo social. Baseado na teoria da evolução de Darwin, que se propagou com o livro “A evolução das espécies” de 1859. Alguns pensadores se apropriaram das idéias de Darwin, e passaram a aplicar a teoria da seleção natural às sociedades humanas. Segundo a teoria dos darwinistas sociais algumas raças eram geneticamente superiores a outras, e neste caso os brancos, em especial europeus, eram superiores, mais evoluídos e progrediam mais rapidamente que os negros e asiáticos, tendo o direito, portanto, de quando em contato com os “selvagens” subjugá-los e crescer à custa de seu sacrifício. Ou seja, por serem menos evoluídos, a própria regra de seleção natural estaria condenando essas raças a sua inevitável extinção.

Observe o relato abaixo que procuram justificar a superioridade dos europeus em relação a outros povos:

Jules Ferry, 1885:

As raças superiores têm o direito perante as raças inferiores. Há para elas um direito porque há um dever para elas. As raças superiores têm o dever de civilizar as inferiores. Vós podeis negar; qualquer um pode negar que há mais justiça, mais ordem material e moral, mais equidade, mais virtudes sociais na África do Norte desde que a França a conquistou?


A Inglaterra, que era a maior potência industrial da época foi também a que mais vorazmente conquistou colônias e áreas de influência. Pode-se dizer que um terço do planeta estava de alguma forma sob o jugo da influência inglesa. Outras potências imperialistas de peso eram a França a Holanda e Bélgica. Uniam-se ao clube dos países imperialistas ainda a Itália e Alemanha, os Estados Unidos e Japão.

Revolução Russa (6 de 6): A Nova Política Econômica e o stalinismo

 Fonte: Imago História



Ao perceber que as insatisfações começavam a se intensificar e que o modelo de Comunismo de Guerra não estava funcionando, Lênin colocou em prática a Nova Política Econômica (NEP), que nada mais era do que um flerte com o sistema capitalista com a função de dinamizar a economia russa - com privatizações, salários diferenciados, de acordo com determinadas funções, e abertura para o capital estrangeiro. Apesar de ser um sucesso, a NEP foi abandonada a partir do momento em que Stálin centralizou o poder em suas mãos.
Lênin, o grande líder da revolução, acabou morrendo em 1924 - abrindo espaço para uma disputa de poder entre Trotsky e Stalin. Aos poucos Stalin conseguiu cooptar a burocracia russa – aquela acostumada desde tempos imemoriais a apoiar o czarismo – derrotando Trotsky, forçando-o a se isolar no exterior em 1929, onde foi assassinado em 1940.
Com o exílio de Trotsky, Stálin consolidava o seu poder na União Soviética, tornando-se verdadeiramente a personificação do poder. Cassou de forma impiedosa todos que minimamente se mostrassem uma ameaça e instituiu o que se costuma chamar de “culto à personalidade”, onde se procura continuamente reforçar a imagem do líder e, em contraposição apagar e denegrir a imagem dos opositores.

Cartaz publicado na época do lançamento da NEP destaca o desenvolvimento da União Soviética.

Revolução Russa (5 de 6): A Rússia socialista

Fonte: Imago História



Os sinais de que a Revolução Socialista não toleraria oposição e manteria o poder ultra centralizado evidenciavam-se desde a tomada de poder pelos bolcheviques.

Vimos que Trotski organizou a Guarda Vermelha, sustentáculo dos bolcheviques. Contudo, formou-se, também a Tcheka, uma polícia política secreta muito parecida com a famosa Gestapo nazista e com a clara função de perseguir opositores do regime.

Na medida em que não conseguiram maioria no Congresso, os bolcheviques simplesmente dissolveram a Assembléia Constituinte e criaram o Partido Comunista, gradativamente reduzindo o poder popular e dos sovietes, transformando a ditadura do proletariado em uma ditadura do Partido Comunista, comandado por Lênin e Trotsky.

Outro exemplo da intolerância do agora Partido Comunista foi à repressão aos marinheiros do porto de Kronstadt, que haviam sido os primeiros que aderiram ao processo revolucionário, tidos como heróis. Como em 1921 a situação já evidenciava um descaminho do poder, Kronstadt começou a se opor abertamente aos rumos da revolução e ensaiar uma suposta “terceira revolução”. O Exército Vermelho levou 10 dias para vencer e massacrar Kronstadt, executando milhares de sobreviventes ou mandando-os para prisões na Sibéria.


Vítimas do terror vermelho

Revolução Russa (4 de 6): Revolução de Outubro

 Fonte: Imago História



Assim, Lênin e Trotski planejaram a tomada do poder pelos Bolcheviques para o dia 24 de outubro. O primeiro passo foi a tomada da Fortaleza de Pedro e Paulo, que continha um imenso arsenal. A tomada da Fortaleza, na verdade, aconteceu de forma pacífica: convencidos por Trotski, os soldados que defendiam o local aderiram a Revolução em curso.

O passo seguinte foi a tomada de todos os pontos estratégicos de Petrogrado, deixando a cidade ilhada, o que possibilitou o ataque final ao Palácio de Inverno, na noite do dia 25 de outubro e, por fim, o marco definitivo do sucesso da revolução socialista.

Após a tomada do poder, Lênin anunciou as primeiras medidas dos revolucionários, entre elas a proposição da paz, à abolição da propriedade privada sem nenhum tipo de indenização, a nacionalização de todos os empreendimentos estrangeiros sem indenização e o controle das fábricas pelos operários.

Em meio ao caos que se instalaram na Rússia os bolcheviques resolveram abrir o Palácio de Inverno, então símbolo do czarismo, para a visitação pública, afinal de contas agora tudo pertencia a todos. O que se sucedeu foi o famoso saque do Palácio de Inverno, com a invasão da adega do czar e uma orgia que se estendeu por dias. Os bolcheviques até tentaram várias vezes acabar com a bagunça, mas foi difícil, uma vez que os seis primeiros grupos de soldados aderiram à orgia socialista.

Mas não era apenas a adega do Palácio de Inverno que interessava os russos. Pós-tomada de poder pelos bolcheviques todas as adegas encontradas na Rússia começaram a ser invadidas. A solução encontrada pelos bolcheviques já sinalizava o terror que a revolução poderia engendrar. Com a finalidade de evitar a embriaguês e o caos, os bolcheviques começaram a dinamitar as adegas, muitas vezes sem se preocupar em retirar os bêbados que estavam lá dentro.

As medidas dos Bolcheviques levaram a Rússia a uma guerra civil, colocando de um lado os revolucionários (vermelhos) e de outro os contra-revolucionários (brancos) apoiados pelas potências estrangeiras, que não queriam nem pensar na possibilidade da expansão do socialismo para outros países. Os vermelhos foram atacados por franceses, ingleses, alemães, poloneses, japoneses e até americanos.

Durante o período de intensa guerra interna foi instalado o chamado Comunismo de Guerra, onde se estabeleceu o trabalho obrigatório e o confisco dos produtos agrícolas. A guerra foi vencida pelos vermelhos, não sem deixar o povo russo em frangalhos e a economia arrasada.

 "Cada golpe de martelo é um golpe no inimigo". Cartaz ressaltando a importância do trabalho, inclusive, na produção de armamentos.

 Propaganda de 1920, onde se faz referência a Guerra Civil: "Bata os brancos com a cunha vermelha".

Revolução Russa (3 de 6): Governo Provisório

Fonte: Imago História



Com a queda do czar, se instala na Rússia um governo provisório, liderado, sobretudo, por políticos conservadores. Trata-se de um governo com características liberal-burguesas. Ao mesmo tempo, os sovietes renascem com intensa vitalidade, fazendo grande pressão em relação ao novo governo.

Se a sustentabilidade do governo provisório era frágil, ela somente pioraria com a adoção de medidas que contrariavam os sovietes e as massas proletárias, entre elas o adiamento da reforma agrária e da convocação da Assembléia Constituinte, e a insistência em manter a Rússia na guerra.

Lênin, que voltara do exílio em abril de 1917, vai canalizar toda essa insatisfação popular em favor do Partido Bolchevique, por meio do slogan paz, terra e pão, que sintetizava exatamente o descontentamento com a guerra, com as desigualdades no campo e com a carestia de alimentos e péssimas condições de trabalho nas indústrias.

Reivindicando “Todo o poder aos sovietes”, as propostas do Partido Bolchevique – entre elas a imediata expropriação das terras dos proprietários rurais e a distribuição das mesmas aos camponeses, e o controle das fábricas pelos operários – irão rapidamente ganhar espaço no convulsionada Rússia de 1917.

Por outro lado, Trotski, que também havia retornado do exílio, começou o formar um exército vinculado aos Bolcheviques, a Guarda Vermelha, embrião do futuro Exército Vermelho. Trotski se preparava para a possibilidade de uma ação militar organizada contra o regime vigente. Assim, sem o apoio do campesinato (que queria a reforma agrária), tendo a forte oposição política dos sovietes, sem apoio popular, e sem o apoio dos setores militares (que queriam o fim da guerra), o governo provisório desmanchava-se, sem ele mesmo se dar conta disso.


Na imagem acima, Lênin varre os exploradores, que estão representados pelos capitalistas, o regime czarista e a Igreja.


Na imagem acima, temos uma representação de Trotski comandando a Guarda Vermelha, que mais tarde tornar-se-ia o grande Exército Vermelho.

Revolução Russa (2 de 6) : Domingo Sangrento e Primeira Guerra Mundial

 Fonte: Imago História



Em 1905 a insatisfação em relação ao regime czarista explodiria pela primeira vez. A derrota da Rússia para o Japão na guerra de 1904-5 agravou a situação econômica interna e desencadeou uma série de manifestações populares – com ampla participação do proletariado – e que teve como data emblemática o dia 9 de janeiro (o “Domingo Sangrento”), data em que 300 mil operários se mobilizaram em São Petersburgo com a finalidade de reivindicar melhorias das condições de trabalho junto ao czar.

A manifestação por duramente reprimida, ocasionando a morte de aproximadamente mil pessoas e milhares de feridos. O episódio fez com que os trabalhadores perdessem definitivamente a confiança no regime, ocasionando o abandono da imagem do czar como “pai protetor do povo russo” e acentuando as greves e manifestações. O episódio fortaleceu, também, os bolcheviques, uma vez que a burguesia acabou apoiando a repressão aos trabalhadores. Ao Domingo Sangrento seguir-se-ia uma dura repressão aos socialistas e inimigos do regime, que resultou em algo em torno de 15 mil mortes e forçou várias lideranças ao exílio. Para o czar, parecia que por muito tempo o controle político permaneceria em suas mãos.


Como foi visto a Rússia participou da Primeira Guerra Mundial ao lado da Tríplice Entente. A mobilização de 15 milhões de homens para o esforço de guerra acentuou as contradições internas. Por um lado, as condições dos combatentes eram péssimas, faltando condições básicas como botas, armas e alimentos. A guerra afundou a economia russa, arrasou a produção agrícola e mostrou-se um matadouro para os soldados russos. As manifestações a favor do fim da guerra se se multiplicavam.


E o fim do regime czarista iniciou-se exatamente pela camada mais explorada do proletariado: as mulheres. No dia 8 de março de 1917, as tecelãs iniciam uma manifestação que rapidamente se propagou por vários bairros de Petrogrado. Em poucos dias a mobilização alcançou o status de uma greve geral e desta vez, as tropas responsáveis pela repressão, começavam a aderir ao movimento contestatório, descumprindo as ordens do czar e entregando suas armas aos manifestantes. Os acontecimentos se precipitaram rapidamente, com prédios públicos sendo incendiados, instalações estatais sendo tomadas pelos manifestantes, presos políticos sendo libertados, instalando o caos em Petrogrado. O movimento se espalhou para outras importantes cidades russas, com a deposição das autoridades e o estabelecimento dos sovietes (conselhos locais que representavam os operários, soldados e camponeses).


Em menos de uma semana a dinastia dos Romanov, que governara a Rússia por mais de 300 anos caiu, e em 1918 a família do czar Nicolau II seria executado pelo novo regime.


O cartaz abaixo, da década de 1920 faz referência à possibilidade de uma revolução socialista à nível mundial.
 
Acima, a imagem faz uma referência a saída da Rússia em relação a Primeira Guerra Mundial a partir do momento em que os bolcheviques tomam o poder.

 Domingo Vermelho e a dura repressão por parte do Czar, o que contribuiu para acabar com a imagem do czar como pai e  protetor do povo.

Revolução Russa (1 de 6) : A Rússia pré-revolucionária

 Fonte: Imago História



Para entendermos a Revolução Russa, devemos analisar, mesmo que brevemente, a estrutura da sociedade russa no final do século XIX e início do XX. Nessa virada de século a Rússia já possuía uma população de cerca de 170 milhões de pessoas, composta por povos de diferentes origens e religiões, estabelecidas em um vasto território, que compreendia parte da Europa e Ásia.

O poder na Rússia era centralizado nas mãos do czar (o termo se origina da palavra Caesar, ou seja, imperador), que era apoiado por uma burocracia corrupta, por setores militares associados à aristocracia e pela igreja ortodoxa, que em contrapartida recebia benefícios do regime czarista russo.

Se de um lado havia setores privilegiados, que davam a sustentabilidade para o czar russo, e viviam de forma luxuosa, por outro, a maioria da população levavam uma vida dura, explicitando um enorme contraste social existente na Rússia. Mesmo com o fim da servidão em 1861 (ainda baseado em laços de dependência com características feudais) a situação dos camponeses não melhorou na medida em que foram obrigados a pagar indenizações à nobreza territorial para compensar a sua perda de mão-de-obra.

A cartoon acima mostra o czar russo e a Igreja Ortodoxa sendo carregados pelo povo da Rússia, que é extremamente explorado.

A abolição da servidão não aliviou a tensão no campo, uma vez que o problema da distribuição da terra para a população mais pobre não foi resolvido. Ao mesmo tempo, ocasionou um significativo êxodo rural, que contribuiu significativamente para o processo de industrialização russa do final do século XIX. Essas pessoas tornar-se-iam um exército de reserva para as indústrias que estavam surgindo nas principais cidades russas.

Efetivada com capital estrangeiro, o processo de industrialização na Rússia aconteceu de sobressalto. De pequenas manufaturas a grandes indústrias ou projetos industriais gigantescos, como a Transiberiana, uma das maiores ferrovias do mundo. O fato é que a introdução das idéias capitalistas fomentou uma grande exploração dos trabalhadores russos, que da dureza dos trabalhos servis no campo russo passaram a uma condição nada melhor nas indústrias ou minas. Há de lembrar, que diferentemente de outros países da Europa, onde por meio de lutas, os trabalhadores já haviam conseguido alguns benefícios, na Rússia a situação do proletariado era extremamente difícil, com longas jornadas de trabalho, que poderiam chegar a 15 horas por dia e salários miseráveis.

A imagem acima retrata os capitalistas como ladrões gananciosos.

O processo de industrialização russa do final do século XIX e início do XX caracterizou-se pela concentração da atividade industrial em alguns pólos, como a cidade de São Petersburgo e Moscou. Esse fator fez com que esses pólos industriais tivessem um grande número de trabalhadores, o que acabou facilitando o contato entre os trabalhadores, possibilitando que se disseminassem valores comuns entre os eles, e articulando-se assim a mobilização visando melhores condições de vida.

Não à toa terem se formado agrupamentos de inspiração marxista, que se organizaram em partidos políticos. É interessante observar que segundo a teoria marxista, a luta de classes previa que antes dos socialistas tomarem o poder, a sociedade deveria passar por uma revolução burguesa, onde, neste caso, os burgueses nacionais tomariam o poder. O problema é que a burguesia russa não era forte o suficiente, e mostrava-se submetida à aristocracia russa e ao capital estrangeiro, que foi o responsável pelos investimentos na industrialização do país.


O fato é que as idéias socialistas se espalhavam rapidamente, principalmente entre o proletariado urbano que estava em rápida expansão. Em 1898 foi criado o primeiro partido político baseado em idéias marxistas, o Partido Operário Socialista Democrata Russo (POSDR), que teve como partícipe ninguém menos do que Lênin e Trotski.


As divergências no Partido Operário levaram a uma cisão interna que colocava de um lado os Bolcheviques (maioria) e de outro os Mencheviques (minoria). As principais diferenças entre as duas facções estavam associadas com a teoria marxista. Os bolcheviques liderados por Lênin, queriam a conquista do poder por meio da revolução socialista e a implementação da ditadura do proletariado. Os mencheviques, liderados por Martov, por sua vez, seguiam a risca a teoria marxista e queriam aliar-se a burguesia nacional para promover a revolução burguesa, para numa segunda etapa efetivar a revolução socialista na Rússia, por via eleitoral.

 A imagem acima procura o convencimento da população e a adesão ao comunismo.

Primeira Guerra Mundial (4 de 4) - Guerra Total e Tratado de Versalhes

 Fonte: Imago História



Como explicar a extensão dos conflitos e tamanha carnificina durante a Primeira Guerra Mundial? A Grande Guerra foi marcada pelo princípio da vitória total, ou seja, o confronto entre as nações imperialistas era permeado pela pretensão a um status global único. As idéias de superioridade levavam as potências a travarem os conflitos até o esgotamento do inimigo.

Contudo, se a guerra foi total, a paz não. O sonho de uma paz onde não houvessem vencidos e vencedores cederam lugar à imposição de uma paz altamente punitiva. Por meio do Tratado de Versalhes a Alemanha teve seu exército restrito, foi obrigada a se comprometer com reparações infinitas em relação aos vencedores, teve suas colônias tomadas, além do retalhamento de seu território. Enfim, se a paz tinha alguma chance, ela efetivamente acabou sendo recusada pelas potências vitoriosas no momento em que optaram em não reintegrarem os vencidos. O Tratado de Versalhes é responsável direto pelo nascimento de um extremo ressentimento e desejo de revanchismo na população alemã. A Primeira Guerra deixava abertas suas chagas, e elas não cicatrizariam.

Entre as principais conseqüências da Primeira Guerra Mundial podemos destacar:


  1. O descrédito dos ideais liberais e democráticos.
  2. Ascensão das paixões dos sentimentos e ressentimentos nacionalistas.
  3. Declínio da hegemonia européia e ascensão dos EUA. 
  4. Modificação no equilíbrio europeu, com o fim do Império Austro-Húngaro, Império Otomano, e temporariamente com o escamotear da Alemanha e Rússia.
  5. Modificação nas territorialidades, principalmente no continente europeu.
  6. Criação da Liga das Nações e simultaneamente o início de uma política isolacionista nos EUA.


A cartoon faz referência às pesadas indenizações que foram imputadas a Alemanha no final da Primeira Guerra Mundial, considerada a única responsável pelo conflito.


Na cartoon acima, retrata-se a Alemanha pós Tratado de Versalhes. As penalidades que Alemanh a recebeu e a não reintegração do país no rol das potências importantes na plano europeu abriu espaço para a disseminação do sentimento do revanchismo que vai levar Hitler ao poder durante a década de 1930.

Primeira Guerra Mundial (3 de 4) - Guerra de Movimento e Guerra de Trincheiras, 1917: ano decisivo

 Fonte: Imago História



No dia 4 de agosto de 1914, um milhão e meio de soldados alemães invade o território belga com a finalidade de anular as forças francesas que estavam estacionadas na fronteira entre a Bélgica e o território francês. Tratava-se de uma tentativa de avanço rápido e irresistível do exército alemão. Contudo, o auxílio dos ingleses não tardaria a chegar, e, assim, os franceses conseguiram resistir à investida alemã.

Trata-se da primeira parte do conflito, conhecida como “guerra de movimento”. Os planos alemães, contudo, tinham sido elaborados a mais de uma década e ainda levavam em conta as mesmas estratégias utilizadas por Napoleão a mais de 100 anos, que previa o rápido descolamento de tropas.

A tentativa do avanço alemão e o seu respectivo fracasso deixava claro que uma nova forma de combate começava a se delinear. O avanço tecnológico alcançado nas últimas décadas tornara-se um empecilho para deslocamento das tropas, ou seja, os novos armamentos como a metralhadora, a artilharia, os tanques de guerra, o lança-chamas e a utilização de aviões faziam com que a guerra fosse muito mais mortífera. Já que nos deslocamentos as tropas ficavam desprotegidas, a sobrevivência dos soldados dependia da utilização de trincheiras.

Entre 1914 e 1915 quase 800 quilômetros de trincheiras haviam sido escavadas na frente de batalha que opunha os alemães a franceses e ingleses, tratava-se da Frente Ocidental. Nos anos seguintes (entre 1914-17) milhares de soldados conheceriam o inferno nesses buracos. Cada palmo do território inimigo era disputado à custa de milhares de vidas. Para se ter uma idéia, o território conquistado pelos beligerantes não se alterou mais do que 20 quilômetros durante todas as batalhas, isso em mais de três anos.

O que era para ser um ataque rápido transformou-se num impasse. Os beligerantes eram suficientemente fortes para resistirem aos horrendos combates. Com a situação indefinida na Frente Ocidental as potências trataram de tentar mostrar a sua supremacia no mar. A utilização de submarinos era uma arma importantíssima no corte de abastecimento de alimentos. É foi a afundamento do transatlântico Lusitânia pelos alemães que fez com que os Estados Unidos entrassem na guerra, em abrir de 1917.

Do outro lado da Europa (Frente Oriental), as tropas alemãs lutavam contra as forças russas. Contudo, as derrotas do exército russo começaram a evidenciar as fragilidades do regime, e em 1917, o czar Nicolau II é deposto. Um pouco mais tarde seria a vez dos bolcheviques tomarem o poder; estava em curso a Revolução Russa, um dos mais significativos episódios do século XX. A Rússia resolve então se retirar da guerra. Poder-se-ia pensar que a situação da Alemanha melhoraria com derrota dos russos, contudo, a maior preocupação dos alemães era o contínuo reforço de tropas americanas.

A entrada dos americanos parecia anunciar que o fim da guerra se aproximava. Contudo, muito mais importante do que as tropas americanas, a Revolução Russa apressava o processo que encaminhava o fim da guerra. A revolução espalhou o temor de que as idéias socialistas se espalhassem pelos países devastados e tomasse vigor em meio aos exércitos estraçalhados e desanimados. O medo dos motins espalhava-se por todos os exércitos. Era necessário acabar com a guerra, antes que a guerra acabasse em revolução social.

No ano de 1918 os alemães ainda tentariam suplantar as forças aliadas. Não conseguiram; seu poderio militar tinha se exaurido. Em julho o regime cai e o kaiser foge do país. Era o fim da guerra, mas não das rivalidades. Em novembro de 1918 é assinado um acordo que coloca fim no conflito, mas a pólvora estava espalhada por toda a Europa, e o estopim seria novamente aceso décadas mais tarde. O balanço trágico da Primeira Grande Guerra: nove milhões de mortos e pelo menos vinte milhões de feridos.

A cartoon abaixo se refere à morte de uma civil. Os alemães aparecem como porcos, selvagens que não respeitam a população civil e cometem as maiores atrocidades imagináveis.



Acima, um soldado francês estrangulando a águia germânica.


O mais conhecido dos cartazes norte-americano de guerra onde é feita a convocação da população para o esforço bélico.


Ingleses e americanos comemorando a vitória da Trípice Entente

Primeira Guerra Mundial (2 de 4) - As Alianças

 Fonte: Imago História



Entre os anos de 1871 e 1914 não ocorreram guerras que levassem as potencias européias a transpassar as suas fronteiras nacionais. Essa situação, contudo, estava prestes a mudar. Um eminente confronto entre as grandes nações imperialistas parecia para alguns apenas uma questão de tempo. Foi exatamente o que aconteceu em 28 de junho 1914. Ao fazer uma visita à Saravejo, capital da Bósnia (região que havia sido anexado ao Império Austro-Húngaro em 1908), o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono, é assassinado por um estudante ligado à organização secreta Mão Negra, grupo contrário aos planos do herdeiro do trono austro-húngaro, que pretendia anexar a Península Balcânica (e os povos eslavos) ao Império Austro-Húngaro.

O império Austro-Húngaro esperou três semanas para levar a cabo sua retaliação (tempo necessário para organizar uma ação militar) e com o apoio incondicional da Alemanha (sua aliada) encaminhou um ultimato à Sérvia, com uma série de exigências, inclusive, outorgando-se o direito de interferir nas investigações que apuravam os responsáveis pelo assassinato de arquiduque. A não aceitação dos termos do ultimato fez com que o Império Austro-Húngaro declarasse guerra a Sérvia, bombardeando a cidade de Belgrado.

A partir desse momento as alianças foram automaticamente acionadas: a Rússia, aliada da Sérvia coloca seu exército em ação; a Alemanha responde imediatamente aos russos e coloca suas tropas em marcha, atravessando o território belga (que interessava a Alemanha, mas se colocava como um país neutro); é a vez, então, da França e do Império Britânico socorrerem a Bélgica. Formam-se dois poderosos blocos: de um lado os países da Tríplice Aliança (Alemanha, Itália – que se declarou neutra no início dos conflitos –, o Império Austro-Húngaro e Império Otomano), do outro lado, a Tríplice Entente (com a Inglaterra, a França e a Rússia). O pavio havia sido acesso, e daquele momento em diante a guerra envolveria todas as grandes potências e quase todos os países. A “era da catástrofe” estava apenas começando.

Na imagem temos uma sátira que é favorável à Alemanha, onde a Rússia a França e a Grã-Bretanha aparecem como os “pacíficos amigos”. É claro, o que a caricatura pretende é realçar exatamente o contrário, ou seja, a suposta responsabilidade desses países no conflito.

Abaixo a imagem faz referência aos aliados que formaram a Tríplice Entente

Primeira Guerra Mundial (1 de 4) - Atritos entre as Grandes Potências

 Fonte: Imago História



Tamanha a importância e conseqüências da Primeira Guerra Mundial, que ela será utilizada muitas vezes como marco para balizar os eventos mais significativos do século XX, no que ficou conhecido como “era da catástrofe”. A Primeira Guerra Mundial vai enunciar novas formas de combate e alterar o equilíbrio das potências no plano europeu e mundial, com a introdução de novos expoentes como os Estados Unidos e a Rússia. Vamos a partir de agora conhecer um pouco mais de um dos conflitos mais sangrentos e traumatizantes da história da humanidade.

Diferentes estudiosos apontam causas diversas para explicar as motivações que levaram a Primeira Guerra Mundial. Para além das divergências podemos apontar alguns fatores que desencadearam a guerra.

Em primeiro lugar o choque entre os interesses econômicos conflitantes das grandes potências. Em face da expansão do capitalismo monopolista e da industrialização era necessário buscar novas fontes de matérias-prima, mercados consumidores e territórios para onde fosse possível exportar e dinamizar os capitais excedentes.
Colonialismo e Imperialismo. Atrelado aos interesses econômicos tem-se, principalmente a partir de década de 1880, um novo ímpeto colonialista e imperialista. Trata-se de um novo tipo de dominação amparado pelas novas tecnologias bélicas e efetivada rápida e intensivamente em grandes extensões territoriais da África e da Ásia. Como justificativa para a dominação desses continentes alegava-se, por um lado, uma suposta necessidade de levar a civilização para as nações atrasadas, e por outro, a eugênica afirmação de superioridade racial do homem branco. A América Latina também foi inclusa – mesmo que informalmente – no processo de neocolonização. Senão em termos de ocupação e subordinação explicitamente militar, tratava-se de uma dominação em se tratando de interesses econômicos.
As principais potências imperialistas eram a França e a Inglaterra. Contudo, a tardia unificação política da Itália e da Alemanha deixou esses países de fora da partilha dos territórios da África e Ásia. Esses países, em especial a militarista Alemanha não se contentou em ficar de fora do lucrativo empreendimento neocolonizador. Nesse âmbito, o imperialismo consistia em um potencial ponto de atrito entre as potências européias.

Outro ponto de atrito na Europa dizia respeito ao espetacular crescimento da indústria alemã, que no início do século XX já havia superado a França e já ameaçava a Inglaterra. Em outras palavras, o crescimento econômico, industrial e militar da Alemanha abalava o equilíbrio entre as potências na Europa, construído ainda nos idos de 1815, quando da derrota definitiva de Napoleão. Tratava-se do surgimento de uma nova aspirante a potência hegemônica. 

O nacionalismo e o militarismo, que inflamavam os ânimos das nações recentemente unificadas, no sentido da resolução dos conflitos externos por meio da via bélica. Mas não somente nessas nações; no caso da França, por exemplo, havia o desejo de revanche e de recuperação dos territórios da Alsácia e da Lorena, perdidos para a Alemanha em 1870, na Guerra Franco-Prussiana. De autodeterminação dos povos, os ânimos nacionalistas foram rapidamente convertidos em desejo de expansionismo e da formação de grandes nações, como a “grande Alemanha”, “a grande mão Rússia”.

A corrida armamentista e a formação de grandes contingentes belicosos. Tratava-se de uma paz armada, onde os países procuravam se preparar para uma situação de conflito que parecia inevitável. Muitos, inclusive, faziam uma apologia à guerra, que nesse sentido seria encarada como algo necessário para o fortalecimento do homem, e, por conseqüência da nação.

Período Democrático - (5 de 5) João Goulart

Fonte: Imago História


A renúncia de Jânio Quadros instaurou um quadro de extrema instabilidade no Brasil. Carlos Lacerda e boa  parte dos setores militares não estavam dispostos a aceitar a posse de João Goulart, vice-presidente, tido como excessivamente de esquerda e acussado  de ter ligações com o comunismo.

Nesse contexto a previsibilidade de um golpe militar que acompanhava a democracia brasileira desde 1946 parecia muito próximo. Contudo, o movimento cívico-militar encabeçado pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola – cunhado de Jango – por meio da conhecida Rede da Legalidade começou a se mobilizar para garantir a posse do vice-presidente. No Rio Grande do Sul, parcela da população civil pegou em armas para garantir o cumprimento da lei. A UNE e vários sindicatos declararam greve, a OAB e a CNBB declararam apoio ao cumprimento da Constituição.

Nesse contexto de instabilidade política, se estabeleceu um acordo, onde a posse de João Goulart aconteceria, mas por meio de uma “solução de compromisso”, que através de uma emenda à constituição estabelecia o parlamentarismo no país. Assim Goulart assumia a presidência mas o chefe de governo seria o primeiro-ministro.

Os militares ordenaram o bombardeio do Palácio do Piratini no RS, mas os sargentos impediram que os aviões decolassem.

A “solução de compromisso” previa um plebiscito para legitimar a alteração na forma de governo. Assim, em 1963 quase 80% dos brasileiros decidiram pela volta do presidencialismo, devolvendo os poderes de chefe do governo ao presidente João Goulart.

O governo Goulart foi marcado pela instabilidade política e economica. Pressionado pela crise na economia, Jango procurou se aproximar dos movimentos sociais, comprometendo-se a recuperar o poder de compra dos trabalhadores.

Tentou colocar em prática o Plano Trienal, onde previa uma série de reformas com a finalidade de dar um novo dinamismo ao capitalismo brasileiro, como a reforma agrária, educacional (com investimentos de 15% da renda produzida no Brasil), administrativa, tributária (com limitação das remessas de lucros) e urbana (as pessoas poderiam ficar com apena uma casa). Além disso, Goulart tinho como objetivo controlar o capital estrangeiro e criar monopólios de setores estratégicos da economia do país. Delineia-se a volta do nacionalismo, com uma grande intervenção do estado na economia.

É claro que muitos setores da sociedade brasileira não simpatizavam minimamente com Jango, e muito menos com suas propostas de reforma de base. Junte-se a essa falta de apoio o contexto da Guerra Fria e o “medo do comunismo”, além da ascenção dos movimentos sociais no Brasil, em especial das Ligas Camponesas, que exigiam uma grande reforma agrária, assunto abominado pelos grandes latifundiarios e setores conservadores.

De ambos os lados as posições se radicalizavam. Jango tinha que lutar tanto contra os setores de direita, que o acusavam de conspiração com os comunistas, como com os de esquerda, que exigiam a radicalização das reformas, mesmo sem aprovação do Congresso (Jango não tinha a maioria entre os parlamentares).

A partir do segundo semestre de 1963 a situação política e a sustentação de jango no poder começaria a tomar rumos imprevisíveis. Em setembro, um grupo de sargentos tomou Brasília pela força, trazendo um grande desgaste para o governo. Poucos dias depois, Lacerda (que na ocasião era governador da Guanabara) em entrevista a um jornal norte-americano atacou Jango e apleou para que os Estados Unidos itervisse a situação política brasileira. Para tentar acabar com as hostilidades da oposição, Jango vai solicitar ao Congresso a aprovação do estado de sítio, suspendendo as garantias individuais e possibilitando assim a repressão dos opositores. A medida não foi bem recebida e a situação de Jango, se tornou ainda mais delicada. Enquanto isso, a crise economica se intensivicava e a inflação para o ano de 1963 batia na casa dos quase 80%.

E nesse contexto que tem-se no dia 13 de março de 1964 – com o apoio dos movimentos de esquerda – o famoso Comício da Central do Brasil, onde centenas de milhares de pessoas ouviram Jango criticar a Constituição de 1946 e anunciar as reforma de base, entre elas a nacionalização de todas as refinarias de petróleo particulares e a desapropriação das terras com mais de 100 hectares situadas às margens das rodovias e ferovias federais.

Imeditamente os setores conservadores da sociedade brasileira reagiram, e no dia 19 de março acontece a gigantesca manifestação conhecida como “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, onde assustados com as medidas de Jango e com a sempre temida ameaça comunista exigem a deposição do presidente.

A manifestação conservadora deu um soposto apoio popular, e a singular revola dos marinheiros entre os dias 25 e 27 de março, que se insurgiram contra o comando da Marinha – no qual Jango se pocisionou a favor, concendendo a anistia – caracterizou uma suposta quebra de hierarquia, dando aos setores militares conservadores a motivação para consumar o golpe militar.

Assim, no dia no dia 31 de março de 1964, sob a alegação de quebra da disciplina das Forças Armadas e do perigo comunista, um grupo de soldados comandados pelo general Olímpio Mourão Filho partiu de Juíz de Fora com o objetivo de derrubar o presidente. Efetivametne, Jango poderia ter mobilizado as tropas que se mantinham fiéis ao governo federal e impedir o avanço das tropas, tentando suspender o golpe ou ao menos ganhar mais tempo. O problema é que Jango ficou sabendo que os EUA já haviam colocado em ação a operação Brother Sam e em caso de resistência armada de Jango ajudariam os golpistas com apoio diplomático, financeiro e em caso de necessidade, inclusive, militar. Rumava em direção ao Brasil uma considerável frota norte-americana, com porta-aviões, destróieres e aviões de combate com grande poder de fogo.

Com o risco de uma guerra civil e da intervenção dos Estados Unidos na soberania nacional, Jango tentou convencer os militares a manter a fidelidade e suspender o golpe, sem nenhum sucesso. Naquele momento, o golpe articulava governadores de importantes estados brasileiros, em especial São Paulo, Minas Gerais, Guanabara e Rio Grande do Sul, os setores conservadores da sociedade brasileira, políticos de oposição e, inclusive, o presidente do Congresso Nacional, além do governo dos Estados Unidos que se posicionavam a favor dos militares com apoio bélico.

Tratava-se, sobretudo, de garantir uma modernização conservadora, dentro da ordem do capitalismo internacional vigente, afastando as massas populares e os movimentos de oposição da cena política e garantindo os interesses das elites brasileira.


A charge abaixo faz uma referência direta aos intentos de João Goulart levar a cabo a reforma agrária. O cartunista faz uma comparação entre a agricultura americana e a russa, deixando implicito uma crítica as supostas inclinações socialistas do presidente. Trata-se de uma charge bastante conservadora.

Na cartoon abaixo observa-se uma referência direta em relação as reformas de base propostas por João Goulart, que é, claro, contrariava os interesses dos setores conservadores.

Período Democrático - (4 de 5) Jânio Quadros

 Fonte: Imago História



Em meio às suspeitas de corrupção durante o Governo JK (em especial na construção de Brasília), com amplo apoio dos estratos médios urbanos e da UDN e utilizando-se de expediente evidentemente populista Jânio Quadros é eleito presidente em 1960 com a maior votação até então registrada no Brasil, mais de 5,5 milhões de votos, representando 48% do total dos votos.

Com um discurso altamente paternalista e populista, Jânio costumava andar com suas roupas propositadamente amassadas e não suficiente, carregar sanduíche de mortadela nos bolsos. Ao mesmo tempo fazia o possível para reforçar a imagem de um político honesto, utilizando como símbolo de sua campanha uma vassoura, acompanhado do jingle:

Varre, varre, varre, varre, vassourinha.
Varre, varre a bandalheira,
Que o povo já está cansado
De sofrer desta maneira.

O governo Jânio Quadros durou apenas 7 meses e é marcado por medidas que variavam de insignificantes, extravagantes e desconcertantes, engendrando uma forte oposição interna, fruto, sobretudo, de uma rápida radicalização no sentido de uma política externa independente.

Em termos econômicos, assumindo o governo em um momento onde a inflação o custo de vida e a divida externa estava altos, o governo de Jânio Quadros adota as orientações do FMI e se destaca por uma política de contenção de gastos e austeridade fiscal, com cortes nos gastos públicos, “arrocho” salarial, combate a inflação e aumento da taxa de juros. Medidas extremamente desagradáveis, colocando o país em recessão econômica, o que rapidamente acaba com a sua popularidade.

Por outro lado, Jânio Quadros criou Comissões de Sindicâncias para investigar a corrupção durante o governo JK, o que evidentemente contrariava inúmeros parlamentares envolvidos em desvios volumosos de dinheiro público.

Simultaneamente, em termos de política externa, Jânio Quadros adotou muito rapidamente uma radicalização de seus discursos, assumindo uma Política Externa Independente, recusando o alinhamento automático com os Estados Unidos, e restabelecendo relações diplomáticas com a União Soviética e com a China – mesmo sendo anticomunista – declarando-se, ainda, abertamente contra a invasão de Cuba pelos Estados Unidos e dando apoio aos países africanos na luta pela independência frente a Portugal.

Não suficiente Jânio Quadros utilizava-se de factóides e singulares proibições, como no caso do uso de biquinis em concursos de beleza, as rinhas de galo, o lança-perfume em bailes de carnaval e o carteado. Contudo, seu ato mais ousado foi a condecoração do misnistro e ex-gerilheiro Ernesto Che Guevara com a Grã Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul.

Tal medida descontentou grande parte dos setores militares e conservadores. A partir deste momento a UDN e, em especial, Carlos Lacerda se colocam publicamente em rede de televisão contra o governo de Jânio Quadros acusando-o de conspiração comunista e de planejar instaurar uma ditadura no Brasil.

Com uma frágil sustentação política, sem o apoio da UDN, desconcertando os setores militares e a tradicional submissão aos Estados Unidos, desagradando a direita e os setores conservadores com sua aproximação em relação aos países socialistas, combatendo os partidos de esquerdas e declarando-se anticomunista, e, não obstante, desagradando a população em geral com medidas factóides e com a desvalorização dos salários, Jânio Quadros cada vez mais carecia de estabilidade e apoio que sustentassem suas perípecias e ousadia política. Frente ao ataque explicito de Lacerda, Jânio Quadros surpreende a todos e no dia 25 de agosto de 1961 renuncia a presidência da República, deixando uma carta para ser entrege ao Congresso; pedido esse que imediatamente foi aceito.

Especula-se, por uma lado, que Quadros escreveu a carta em um momento de incerteza acreditando que não seria entregue. Diz-se ainda, que na verdade, tentava utilizar o seu apoio popular para aumentar seus poderes junto ao Congresso, neste caso, acreditaria que assim que anunciasse sua renúncia, o povo sairia às ruas exigindo sua volta ao poder (tentativa de um golpe de estado). Neste caso, talvez se lembrasse da comoção que acompanhou a morte de Vargas; seja como for, a população não saiu às ruas, e o Congresso prontamente aceitou a renúncia e Janio Quadros iniciaria um longo período de ostracismo político.

Repare que na cartoon abaixo temos ao mesmo tempo uma referência aos problemas que o Brasil enfrentava no momento em que Jânio Quadros assumiu o poder, em especial todas as suspeitas de fraudes e a grande corrupção que envolveu a construção de Brasília. A vassoua é a grande marca da campanha de Jânio, que prometia sanear as finanças nacionais, o que até tentou, mas com medidas extremamente desagradáveis, como, por exemplo, o "arroucho salarial".


A cartoon faz referência ao caráter populista de Jânio Quadros, uma das suas estratégias utilizadas para conseguir se eleger presidente em 1960.
UMA IDÉIA
Leandro - É muita sujeira, seu Jânio! São Cordilheiras!
Jânio - Com a industrialização de todo esse lixo quem sabe seu Leandro, se não salvaremos as finanças nacionais?!
THÉO. Careta, ano 52, 1960