O
Comércio com o Oriente era bastante lucrativo para os comerciantes
italianos, mas empobrecia a economia européia, pois os produtos
orientais eram pagos, em boa parte, com ouro e prata, o que provocava
uma “hemorragia de metais preciosos”. Na Europa ocidental, a produção de
alimentos não era suficiente para alimentar sua população. Para agravar
a situação, a população rural não tinha poder aquisitivo para adquirir a
produção artesanal dos burgos. Assim, o excedente artesanal deveria ser
colocado em outros mercados. A solução natural para todos esses
problemas foi a expansão marítima.
Como Veneza e Gênova dominavam as principais rotas do Mediterrâneo ,
era necessário encontrar novas rotas. Os europeus, acostumados à
navegação no Mediterrâneo e próximo ao litoral atlântico, teriam que
desenvolver técnicas mais ousadas, ampliar conhecimentos geográficos e
astronômicos para orientação em mar alto, e melhorar a cartografia,
essencial para a representação das novas regiões.
As modernas invenções criavam uma perspectiva favorável paras as
navegações: a imprensa propiciava a divulgação dos avanços, a pólvora
era utilizada para armar os navios com canhões e instrumentos como a
bússola e o astrolábio orientavam melhor os navegantes. A introdução do
leme e o uso da vela latina propiciaram o aparecimento da caravela, um
navio capaz de enfrentar os grandes percursos, as grandes ondas do
Atlântico e de carregar muita mercadoria. Somem-se, a tudo isso, o
interesse econômico do Estado moderno e a obra missionária da Igreja
Católica e temos um plano estimulante das grandes navegações.
A queda de Constantinopla, em 1453, acelerou a expansão marítima, pois
com as rotas comerciais no Mediterrâneo oriental sob o controle dos
turcos, as mercadorias asiáticas alcançaram um alto preço. Assim, era
preciso descobrir novas rotas para evitar o domínio comercial dos turcos
e italianos no Mediterrâneo e atingir as índias diretamente, sem
intermediação na aquisição dos produtos de luxo como tapetes, sedas,
porcelanas e especiarias (pimenta, cravo, canela, gengibre,
noz-moscada), tão valiosos e desejados na Europa.
O pioneirismo de Portugal
A grande expansão marítima européia se iniciou com Portugal
quando, em 1415, tomou Ceuta, cidade comercial árabe norte-africana,
portanto bem antes da queda de Constantinopla. Localiza-se na parte mais
ocidental da Europa. É um país voltado naturalmente para o atlântico.
Desde o século XIV era comum navios, que ligavam a Itália e para o mar
do Norte, aportarem em Lisboa, para abastecimento e reparos,
transmitindo para seus tripulantes conhecimentos e propiciando lucros
aos portugueses. O interesse da monarquia coincidia com o dos
comerciantes na busca de riquezas, e os da nobreza e da Igreja não eram
diferentes. A nobreza, pelos saques e terras; o clero, pela expansão do
Cristianismo e os benefícios que isto lhe traria. Pode-se, portanto,
considerar essa expansão como uma renovação do ideal das Cruzadas. Não
esquecendo os esforços do infante D. Henrique, o Navegador, ao fundar em
Sagres, 1417, um centro de construção e estudos navais, que
reuniu diversos especialistas como cartógrafos, astrônomos e
marinheiros que possuíam conhecimento do que de mais avançado se sabia
na época sobre a arte de navegar, que juntos passaram a estudar o
legado náutico deixado por grandes povos do passado – fenícios,
egípcios, gregos, árabes, etc. Foi
na Escola de Sagres que foram realizados, em 1418, os primeiros estudos
e projetos de viagens oceânicas. Foi nela que foram aprimoradas
embarcações como a caravela e aperfeiçoados os instrumentos náuticos
necessários a longas viagens, como a bússola e o astrolábio, que haviam
sido inventados no Oriente. É importante ressaltar que os estudos desses
especialistas não chegaram a tomar a forma de uma instituição
educacional permanente, mas mesmo assim ficaram conhecidos Escola de
Sagre.
As principais etapas do avanço marítimo português foram:
a) 1415 – Conquista de Ceuta, no norte da África, primeiro passo na expansão.
b) 1434
– Alcance do Cabo Bojador, por Gil Eanes. Região de arrecifes
pontiagudos, o cabo era considerado um obstáculo intransponível pelos
portugueses. Quando chegavam ali, as caravelas sofriam sérias avarias ou
afundavam. Em poucos anos, cerca de vinte embarcações foram a pique.
Para os supersticiosos, a destruição dos barcos no Bojador devia-se aos
monstros que habitavam o oceano ou à fúria divina.
c) 1488 – Alcance do Cabo da Boa Esperança (Cabo das Tormentas), no extremo sul da África, por Bartolomeu Dias.
d) 1498
– Chegada de Vasco da Gama às Índias, por navegação, contornando o
continente africano; a mais longa viagem marítima até então.
e) 1500 – chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, em sua viagem ás índias.
Feitorias
comerciais e militares foram estabelecidas no litoral africano e
asiático, como em Calicute, Goa, Timor e Malaca. Em 1520, os portugueses
atingiam a China e o Japão. Para consolidar o seu domínio no comércio
das especiarias, Portugal edificou um império na Ásia, que enriquecia
mais especificamente a nobreza e o Estado. Lisboa era, nas primeiras
décadas do século XVI, a principal praça comercial européia.
A expansão marítima espanhola.
A Espanha foi o segundo país a se lançar na aventura das grandes navegações. A primeira viagem marítima financiada pelo país ocorreu em 1492, com Cristóvão Colombo, 77 anos depois de os portugueses invadirem Ceuta, no Reino de Fez (atual Marrocos), em 1415.
Vários
motivos levaram a Espanha a esse "atraso" na busca de uma rota para o
comércio de especiarias que não passasse pelo Mediterrâneo (controlado
pelas cidades-estado de Gênova e Veneza), nem pela costa africana,
conhecida pelos portugueses até o Cabo da Boa Esperança, no extremo sul
do continente. Um
desses motivos foi a prioridade dada à reconquista da Península
Ibérica, numa luta que se prolongou por 781 anos, a guerra mais longa de
que se tem notícia. A vitória castelhana sobre o Califado de Granada,
último reduto muçulmano na península, data exatamente de 1492. Outro
motivo foi a unificação tardia dos reinos cristãos de Leão, Castela,
Aragão e Navarra. O passo mais importante nessa direção foi dado somente
em 1469, quando o casamento de Fernando de Aragão e Isabel de Castela
deu origem ao Reino Católico de Fernando e Isabel, núcleo inicial do que
viria a ser a Espanha.Cristóvão Colombo e seu projeto polêmico
Em
meados do século XV, o senso comum ainda afirmava que a Terra era um
disco, redondo e plano, mas os estudiosos já sabiam que nosso planeta
era um globo. Por esse motivo é que Colombo, que mantinha contatos com
alguns dos sábios da época, defendia a ideia de chegar às Índias
perseguindo o pôr do sol.
Na
verdade, as teorias que serviam de base para os argumentos de Colombo
eram de origem árabe e judaica (esses povos eram os herdeiros diretos da
cultura da Antiguidade greco-macedônica), mas em um período histórico
no qual predominavam a luta contra os árabes e a perseguição da
Inquisição inclusive contra os judeus, era quase impossível aos
cientistas o reconhecimento público de que a Terra era um globo. Mesmos
assim, a ideia de atingir o Oriente pelo Ocidente foi arduamente
defendida por Colombo. Um debate travado entre ele e os padres da
Universidade de Salamanca, em 1486, custou-lhe a exposição ao ridículo, a
pecha de louco e quase uma condenação à fogueira da Inquisição, braço
jurídico da Igreja Católica desde o Concílio de Trento. Depois,
ainda que tivesse conseguido a adesão de algumas pessoas influentes ao
seu projeto de circunavegação, foi graças à influência do banqueiro
judeu Santagel que Colombo ganhou a confiança da própria rainha Isabel
de Castela. Finalmente, depois que a coroa espanhola obrigou a família
Pinzón, de grandes navegadores, a se unir a Colombo, a viagem foi
aprovada. Alguns historiadores, aliás, acreditam que, sem os
conhecimentos náuticos do Oceano Atlântico que os Pinzón tinham, Colombo
não teria ido muito longe.As caravelas Santa Maria, Pinta e Nina
Finalmente, em 3 de agosto de 1492, a
bordo da caravela Santa Maria, Cristóvão Colombo partiu do porto de
Palos rumo ao oeste, seguido pela Pinta e pela Nina. Setenta dias
depois, a esquadra chegou à ilha de Guanahani, nas Antilhas, rebatizada
como San Salvador pelo próprio "Almirante das Índias".
Colombo faria, nos doze anos seguintes, mais três viagens à América. Na segunda (1493 a
1496), atingiu as ilhas de Cuba, Jamaica, Espanhola (Haiti e República
Dominicana), Borinquén (Porto Rico), Guadalupe, Dominica e Martinica. Na
terceira viagem (1498 a 1500), enquanto os portuguesesVasco da Gamae Pedro
Álvares Cabralchegavam, respectivamente, à Índia e ao que viria a ser a
costa brasileira, Colombo desembarcava na ilha de Trinidad e na costa
norte da América do Sul.
Na quarta e última viagem (1502 a
1504), Colombo navegou pela costa da América Central, ainda na
esperança de encontrar uma passagem para regiões produtoras de
especiarias. Morreu em 1504, acreditando ter atingido um braço da Ásia e
contrapondo-se à teoria de que, na verdade, as terras descobertas eram
um novo continente. Tal ideia foi defendida por Américo Vespúcio, a quem coube a glória de ver seu nome dado, pelo rei Fernando, às terras recém-descobertas.
O Tratado de Tordesilhas
O feito de Colombo levou os governos de Portugal e Espanha a se
envolverem em uma disputa a respeito de qual dos dois países teria a
primazia sobre as “novas” terras. Como não chegavam a um acordo, os reis
de Portugal e Espanha pediram ao papa Alexandre VI que servisse de juiz
na disputa. Em 7 de junho de 1494, com o testemunho do papa,
representantes dos dois governos chegaram finalmente a um acordo e
assinaram o tratado de Tordesilhas.
O acordo dividia o mundo em dois blocos, a partir de uma linha
imaginaria que ficava a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde. As
terras já encontradas, ou que viessem a sê-lo, a oeste desse marco
pertenceriam à Espanha. As terras situadas a leste seriam de Portugal.
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