Os caracteres da escrita
Não é fantástico poder escrever
tudo a partir de vinte e dois sinais, fáceis de desenhar? Coisas sensatas ou
bobas, agradáveis ou desagradáveis. Para os egípcios, com seus hieróglifos, a
tarefa não era tão fácil. Para os mesopotâmicos também não, com sua escrita
cuneiforme, composta por um número imenso de sinais, que não correspondiam a
letras, mas, na maioria das vezes, a sílabas inteiras. Foi uma inovação
incrível imaginar que um sinal poderia ser equivalente (igual) a um som (e que
uma determinada letra teria uma determinada pronúncia) e que, a partir de vinte
e dois sinais, seria possível formar qualquer palavra.
Os seres humanos que descobriram
isso tinham necessidade de escrever muito, fossem cartas, contratos comerciais...
De fato, eles eram comerciantes que percorriam o mar para comprar, vender ou
trocar mercadorias ao longo de todo Mediterrâneo. Eles viviam não muito longe
dos hebreus, em cidades muito maiores e mais poderosas do que Jerusalém – as
cidades portuárias de Tiro e Sídon -, que lembravam a Babilônia pela quantidade
de habitantes e pela agitação. Aliás, sua língua e sua religião tinham alguns
pontos em comum com as dos povos mesopotâmicos.
Por outro lado, eles eram menos
dados à guerra. Os fenícios, nome desse povo do mar, preferiam fazer suas
conquistas de maneira diferente. Eles atravessavam o mar em seus barcos a vela
e aportavam em terras estrangeiras, onde estabeleciam bancas, casas de
comércio. Trocavam com as populações do lugar peles de animais e pedras preciosas
por ferramentas, utensílios de cozinha e tecidos coloridos. Suas qualidades
como artesãos eram reconhecidas e apreciadas até em regiões muito distantes.
Aliás, tinham sido chamados a participar da construção do templo de Salomão, em
Jerusalém. Seus tecidos em cores eram especialmente apreciados, sobretudo os
vermelhos-púrpura, que eles levavam ao extremo do Mar Mediterrâneo.
Alguns fenícios se estabeleceram
nas costas estrangeiras em que tinham aberto bancas e criaram cidades. Por toda
parte eles eram bem acolhidos, tanto na África do Norte e na Espanha, como no
sul da Itália, pois se sabia que traziam coisas bonitas.
Esses fenícios não se sentiam
isolados de sua pátria, pois podiam enviar cartas a seus amigos de Tiro e de
Sídon. Eram cartas escritas com caracteres muito simples, que eles tinham
inventado – os mesmos caracteres que continuamos usando até hoje. É isso mesmo,
quando você vê um B, pode saber que ele é muito pouco diferente daquele que os
fenícios traçavam há 3.000 anos, quando escreviam de suas distantes cidades
portuárias cheias de vida (...) aos parentes e amigos que tinham ficado em sua
terra. A partir de agora com certeza você não vai se esquecer dos fenícios.
Ernest Hans
Gombrich. Breve História do mundo.Trad. Monica Stahel.São Paulo: Martins
Fontes, 2001.p.45-8.
Com base no texto, responda:
a) Por
que o autor denominou os fenícios como “povo do mar”?
b) Qual
a principal contribuição dos fenícios?
c) Como
surgiu a necessidade de se ter um alfabeto?
d) Por
que os fenícios que moravam em cidades distantes não se sentiam isolados de sua
pátria?
e) Por
que você não vai mais se esquecer dos fenícios? Exemplifique.